Quem desconhece a AEP e a História do Escotismo em Portugal, pode achar estranho que se utilizem duas grafias para uma palavra, que, além de homófona é homónima. É vulgar o apontar de erro ortográfico a quem utiliza a expressão “escotismo” – com um “o” – em vez do mais vulgarizado “escutismo”, com “u”. Qual delas está certa? Estão as duas, como adiante veremos, embora cremos que Escotismo é mais correcto que Escutismo.
Em 1913, é fundada a primeira associação escotista portuguesa, a AEP – Associação dos Escoteiros de Portugal, segundo os princípios delineados por Lord Baden-Powell, o fundador do movimento escotista. Porque adoptar o estrangeirismo “boy-scouts” não agradou aos seus mentores, foi adoptada uma palavra já existente na língua portuguesa, com uma fonética e um significado muito semelhantes ao scout saxónico: Escoteiro, (s.m.) pioneiro; aquele que viaja sem bagagem, gastando por escote; adj. leve; veloz. (Dicionário Porto Editora)
Em 1923, a Igreja Católica idealizou criar outra associação escotista, de carácter exclusivamente confessional. Assim nasceu o “Corpo de Scouts Católicos Portugueses”, mais tarde “Corpo Nacional de Scouts”.
Por inspiração no escotismo católico francês, a expressão “scout” era pronunciada à maneira francesa: “secúte”. A história repetiu-se, os responsáveis daquele movimento católico tentaram encontrar uma palavra portuguesa que soasse ao ouvido de uma maneira próxima de “secúte” e com um significado ajustável. Escolheram “escuta”, justificando que, para além da semelhança fonética, o “scout” era atento e observador e, por isso, se adequava ao significado da palavra. Apesar de ser um conceito redutor, deu assim origem ao “Corpo Nacional de Escutas”.
Durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974, a AEP sobreviveu com grandes dificuldades, sendo considerada indesejável e apenas tolerada. Chegou a ser publicado um Decreto que extinguia a actividade da AEP nas colónias. Entretanto, o CNE, sob os auspícios da Igreja, atingiu uma notável expansão, conseguindo felizmente manter a chama escotismo viva. Enquanto o “escotismo” diminuía a olhos vistos, o “escutismo” foi-se tornando cada vez mais conhecido dos portugueses.
Apesar disto, até meados do século, é mais frequente encontrar a grafia “escotismo” em livros e jornais portugueses. De referir ainda que o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa reconhece as duas grafias, sendo certo que por exemplo no Brasil sempre se escreveu “escoteiro”.